Saúde
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24 de julho de 2024
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16:43

Porto Alegre terá frente pelo uso de membrana amniótica no tratamento de queimados

Por
Sul 21
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A membrana amniótica é a camada mais interna da placenta, que produz o líquido amniótico | Foto: Divulgação
A membrana amniótica é a camada mais interna da placenta, que produz o líquido amniótico | Foto: Divulgação

Entidades médicas e de pacientes e familiares de pessoas atingidas por queimaduras lançam nesta quinta-feira (25), em Porto Alegre, a Frente Nacional pela Aprovação do Uso da Membrana Amniótica em Queimados. A membrana amniótica é a camada mais interna da placenta, que produz o líquido amniótico. As entidades pontuam que este líquido estimula e melhora a cicatrização. O lançamento da frente ocorre às 14h, na sede da Fundação Ecarta (Avenida João Pessoa, 943).

Fazem parte da frente o Banco de Tecidos Dr. Roberto Corrêa Chem da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, a Unidade de Queimados do Hospital Cristo Redentor de Porto Alegre, a Unidade de Queimados do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, a Sociedade Brasileira de Queimaduras e a Fundação Ecarta.

A luta das entidades é para que o processo de regulamentação do uso desse material no Brasil no tratamento de queimados e demais ferimentos graves seja acelerado. Desde 2021, a regulamentação do procedimento está em análise na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), no Ministério da Saúde, o que ocorreu após o Conselho Federal de Medicina autorizar o uso desse material.

A membrana amniótica é utilizada em curativos e é armazenada nos chamados bancos de pele, formados por doações de familiares de pacientes com óbito por parada cardiorrespiratória ou morte encefálica. O Brasil conta atualmente com quatro bancos de pele, que juntos atendem menos de 10% da demanda nacional. De acordo com as entidades que irão compor a Frente Nacional, o Brasil é o único país da América do Sul que não regulamentou ainda o usa da membrana amniótica, apesar de o movimento pela regulamentação já ter mais de 10 anos.

No Rio Grande do Sul, esse movimento é liderado pelo cirurgião plástico Eduardo Mainieri Chem, coordenador do Banco de Pele da Santa Casa. “Com a regulamentação do uso da membrana amniótica, 100% das necessidades por pele seriam supridas com um material que supera em cicatrização, qualidade e em custo qualquer outro curativo biológico”, afirma Chem.

Chem explica também que a diferença da membrana amniótica para a pele e outros materiais nestes tipos de tratamento envolve questões como a membrana ser mais fácil de captar, de esterilizar, de disponibilizar quase instantaneamente, com custos e logística muito menores. Já a pele vem contaminada, não tem sorologia do doador, os custos são maiores pela logística de captação, laboratórios, exames, tratamentos da pele coletada que precisam passar por processos complexos até estar apta para uso.

No incêndio da Boate Kiss, ocorrido em 27 de janeiro de 2013, que provocou a morte de 242 pessoas e ferimentos em outras 636, a membrana teve o uso autorizado de forma excepcional. Bancos de pele dos países vizinhos enviaram seus estoques de curativos de membrana permitindo o tratamento de mais de 100 vítimas internadas com queimaduras. A Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria integra a Frente.

“Vai revolucionar o tratamento dos queimados no Brasil e melhorar os nossos resultados ao longo dos anos. Terá grande impacto no tratamento de queimaduras e feridas”, defende o cirurgião plástico José Adorno, da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ).

A organização da frente se deu a partir de uma iniciativa da Fundação Ecarta, por meio do projeto Cultura Doadora, que tem como missão a sensibilização para a doação de órgãos e tecidos e a melhoria da estrutura médico-hospitalar. “Os benefícios do uso da membrana amniótica podem garantir melhorias no tratamento de mais de 100 mil pacientes que sofrem queimaduras ao ano no Brasil”, diz Marcos Fuhr, presidente da Ecarta.


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