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28 de maio de 2024
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19:20

Mesmo com bomba, Dmae diz que não é possível prever quando Humaitá ficará livre de inundação

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Instalação de bomba flutuante no Humaitá foi concluída nesta terça | Foto: Luciano Lanes/PMPA
Instalação de bomba flutuante no Humaitá foi concluída nesta terça | Foto: Luciano Lanes/PMPA

O Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) informou nesta terça-feira (28) que entrou em operação a bomba flutuante cedida pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) que deve ajudar para retirar a água da inundação no bairro Humaitá, Zona Norte de Porto Alegre. Elas se somam a outras três bombas flutuantes, também cedidas pela Sabesp, que já estão operando no bairro Sarandi. Segundo o Dmae, somadas a duas casas de bomba que atuam na região, a capacidade atual de bombeamento do bairro para o Guaíba é de cerca de 6.000 l/s. Ainda assim, o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, afirma que não é possível prever, no momento, quando o Humaitá ficará livre da inundação.

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Junto com o Sarandi, o Humaitá é o bairro da Zona Norte mais afetado pelas inundações, com milhares de pessoas ainda desabrigadas ou desalojadas, grande parte delas desde o dia 3 de maio, quando a enchente tomou conta de Porto Alegre. A demora para a remoção da água tem gerado críticas à Prefeitura e incertezas à população. Reportagem do Sul21 publicada no domingo (26) apontou que um grupo de moradores do bairro, inclusive, está acampado na Freeway à espera da água baixar.

Ao tratar do tema no dia 22, quando a água já baixava consideravelmente em diversos pontos da cidade, o diretor-geral do Dmae destacou que era preciso “ajuda da natureza” para o Guaíba escoar. Ainda no mesmo dia, em outra entrevista, avaliou que o Dmae estava fazendo tudo que era possível naquele momento, com a religação das casas de bomba da região e aberturas de comportas para permitir o escoamento da água.

As bombas da Sabesp começaram a chegar em Porto Alegre ainda no dia 18, sendo primeiramente instaladas no Sarandi. Ao justificar o porquê de não conseguir instalá-las antes no Humaitá, Loss afirmou no último domingo (26) que a previsão era de instalação naquele dia, mas que os planos foram interrompidos em razão das fortes chuvas que voltaram a cair na cidade a partir da quinta-feira (23). Outra dificuldade mencionada foi o fato de que o Dmae não havia encontrado uma solução viável para fazer o duto que leva a água da bomba para o Guaíba atravessar a Freeway. A instalação começou na segunda-feira (27), realizada por técnicos da própria Sabesp.

Em conversa com o Sul21 nesta terça, Loss reafirmou que a demora para a instalação da bomba foi a dificuldade do Dmae de encontrar uma solução técnica para levar a água do Humaitá para o Guaíba, o que foi solucionado na operação de hoje. “Os nossos técnicos trabalharam bastante, buscaram alternativas, possibilidades. Nós tivemos que praticamente fazer uma obra, construímos uma rede ali, um duto de 700 milímetros, para conseguir então acoplar essa bomba e fazer com que ela fizesse um caminho mais longo e nós conseguíssemos despejar essa água direto no canal de descarga da casa de bombas [Estação de Bombeamento de Água Bruta, Ebab] número 5, que vai direto dali para o Guaíba. O primeiro empecilho sempre é para onde bombear essa água. Como nós não conseguimos bombear essa água por cima da Freeway, então nós achamos a viabilidade técnica de colocar direto no posto de descargas da casa de bombas número 5”, explica.

Loss afirma ainda que o Dmae está buscando outros locais viáveis para instalar novas bombas flutuantes nos bairros Humaitá, Anchieta e Sarandi. Além dos equipamentos da Sabesp, o Dmae também tem trabalhado com outras bombas de menor capacidade. Na região do aeroporto, foram colocadas sete bombas-trator, algumas emprestadas por arrozeiros. Já nas proximidades da Ebap 6, no bairro Anchieta, duas bombas flutuantes e uma bomba-trator também estão em operação.

Por outro lado, Loss destacou que não é possível prever, no momento, quando o bairro Humaitá ficará livre da inundação. “Estamos sujeitos sempre a intempéries, chuvas, dependemos muito do volume de chuvas, do nível do Guaíba baixar, da questão do vento, se é vento sul ou não, que represa muito a questão do Guaíba, e, claro, do rendimento das bombas. Gradativamente, nós vamos instalando mais bombas, sejam da Sabesp ou aumentando a capacidade das nossas próprias estações de bombeamento. Mas, prever uma data, é muito difícil prever”, afirmou.

Ex-diretor do extinto Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) e signatário do manifesto de especialistas com sugestões para o enfrentamento das enchentes em Porto Alegre, divulgado ainda em 13 de maio, o engenheiro Vicente Rauber avalia que a iniciativa da Prefeitura foi tardia. Ele pontua que a instalação de bombas já havia sido sugerida no manifesto como a terceira opção a ser tomada para reduzir as inundações, depois de vedar as brechas do sistema de proteção contra cheias, especialmente nas comportas, e de empregar mergulhadores e as medidas que fossem necessárias para secar as casas de bombas e permitir a reativação.

“Reafirmamos, seja para o Humaitá ou para o Sarandi, não tem soluções melhor do que a que estamos propondo. O sistema é robusto, mas onde ele estiver furado, você deve consertá-lo, ainda que seja embaixo d’água. Esta é a melhor técnica para resolver a situação ainda existente”, diz Rauber. “Se não forem capazes de colocar isso em operação, usa-se bombas dos arrozeiros, da Sabesp, de quem quer que seja. Mas a Prefeitura demorou demais para aceitar as bombas”, avalia.


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