
A Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou, nesta quarta-feira (01), por 22 votos favoráveis e 11 contrários, projeto de autoria da vereadora Mônica Leal (PP) que obriga os vereadores da Capital a permanecerem de pé durante a execução do hino nacional e do hino rio-grandense. A proposta altera o regimento da Casa.
Na justificativa da proposta, Mônica Leal afirma que os hinos “são símbolos que representam a nação brasileira, o Estado do Rio Grande do Sul, a pátria e a terra que amamos e respeitamos, expressando o espírito cívico dos brasileiros. Nesse sentido, impõe-se que todas as pessoas, especialmente os parlamentares, como representantes da população que são, devem guardar posição de respeito durante a sua execução”.
Para parlamentares contrários à proposta, como o vereador Matheus Gomes (PSOL), a nova regra expõe o racismo presente na Câmara. “Ao invés de debater a modificação do hino com o povo negro, vereadores atacam nosso direito de protesto com autoritarismo e racismo! Não nos calarão!”, escreveu ele em postagem no Twitter.
Matheus, ao lado outras quatro colegas, compõe a primeira bancada negra da história da Câmara de Porto Alegre. Na cerimônia de posse da atual legislatura, em 1º de janeiro deste ano, os cinco decidiram não cantar o hino do Estado, permanecendo sentados. Na ocasião, Matheus afirmou, em conversa com o Sul21, que a postura de se manter sentado e em silêncio durante o hino começou a ganhar força a partir de movimentos de estudantes negros e negras da universidade federal no início da década.
“Em 2012, a gente reuniu um grupo de jovens que foram até o desfile Farroupilha com a faixa ‘povo que não tem virtude acaba por escravizar’. Ali começou um movimento de contestação, que foi produto do protesto negro e da solidariedade das pessoas brancas também. Na minha formatura, nós éramos cinco negros só e posso te dizer que umas 50 pessoas permaneceram sentadas. Então, a gente foi impondo, a partir de uma maior presença negra na universidade, um constrangimento a posturas que reforçam tradições que fomentam o preconceito e o racismo no Rio Grande do Sul. Dá para comparar um pouco esse ambiente com o que a gente está vivendo aqui, teve essa repercussão na Câmara porque tem pessoas negras aqui dentro também”, explicou na ocasião.
O protesto simbólico dos vereadores negros em janeiro não é novidade em ambientes como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas ganhou novos contornos com a chegada de jovens negros a cargos públicos, como no caso dos vereadores da Capital.
A vereadora Daiana Santos (PCdoB) também comentou a decisão de hoje em suas redes sociais: “A obrigação de ficar em posição de respeito ao hino do Rio Grande do Sul, que questiona a virtude das pessoas que foram escravizadas é mais uma violência que negras e negros são submetidos no seu dia a dia.”
A vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB) se manifestou em tom semelhante: “Essa é uma violência contra todo o povo negro, que tem sua história de luta e resistência contra a escravidão no nosso estado apagada. Queremos contar a história dos Lanceiros Negros, de Oliveira Silveira, e lutaremos para que o racismo não seja mais exaltado na nossa tradição!”
Já a vereadora Karen Santos (PSOL) lembrou o protesto na Câmara em janeiro e acrescentou: “A imposição de leis injustas não abafará o protesto negro. ‘Povo q não tem virtude acaba por ESCRAVIZAR’.