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24 de outubro de 2021
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08:19

Projeto cria cursos para gerar trabalho e renda entre famílias desempregadas no Morro da Cruz

Por
Marco Weissheimer
marcow@sul21.com.br
Turma de curso de panificação em atividade numa das oficinas do projeto (Foto: Arquivo pessoal)
Turma de curso de panificação em atividade numa das oficinas do projeto (Foto: Arquivo pessoal)

Um coletivo de mulheres e homens do Morro da Cruz, em Porto Alegre, iniciou, em fevereiro de 2019, um trabalho voluntário para oferecer oficinas e cursos profissionalizantes, criar hortas comunitárias, uma biblioteca comunitária e outras ferramentas de apoio para pessoas em situação de vulnerabilidade. Nasceu aí o projeto Povo Solidário que, com a chegada da pandemia da covid-19 e o aumento do desemprego, adquiriu maior importância ainda, propiciando cursos profissionalizantes gratuitos a famílias desempregadas. Cursos gratuitos como o de panificação e confeitaria que vêm sendo realizados na cozinha da Igreja São José do Murialdo e frequentados especialmente por mulheres desempregadas. “Estamos procurando apoiar essas famílias, tanto com a oferta desses cursos, como apoiando a criação de cooperativas para essas mulheres no mercado de trabalho”, diz Flavia Lima, idealizadora e coordenadora do projeto.

Os integrantes do projeto divulgam a oferta dos cursos com cartazes nos postos de saúde e paradas de ônibus, e publicações nas redes sociais do Povo Solidário e pelo Whatsapp. No mês de outubro, iniciou uma oficina de panificação e confeitaria para uma turma de 15 alunos e outras duas turmas já estão sendo organizadas. Os cursos ocorrem todas as sextas, das 16h às 19h, na cozinha da Igreja São José do Murialdo (rua Vidal de Negreiros, 550, Partenon). Eles têm um mês de duração e, após sua conclusão, o projeto Povo Solidário ajuda as participantes com arrecadação de insumos e busca de clientes mediante divulgação nas redes sociais (Facebook, Instagram, Youtube). O padre Severino Lisboa também está participando do trabalho de divulgação dos cursos e oficinas. As inscrições podem ser feitas pelo telefone (51) 98653-5680. 

“A cada aluno formado, percebemos os impactos benéficos de nossa atuação. São visíveis a transformação e melhoria na vida destas comunidades periféricas. Visamos, sempre, oferecer, por meio de oficinas técnicas, uma possibilidade de remuneração para as pessoas, com a venda de tudo o que aprendem a produzir em nossas oficinas. Também existe a nossa iniciativa, de tentar uma recolocação no mercado de trabalho”, assinala Flavia Lima, formada em Designer de Interiores pelo IPA, ativista e militante de causas sociais.

 O projeto trabalha para dar profissionalização a mulheres empobrecidas, em sua maioria negras e chefes de famílias, ajudando as famílias em situação de vulnerabilidade, desempregadas e assoladas pela fome. O Povo Solidário iniciou com oficinas de cursos profissionalizantes em panificação e confeitaria, costura e artesanato, modelagem de roupas infantis, unhas com gel, barbearia e oficinas de ajudante de obras, com a finalidade de formar as “maridas de aluguel”). Os cursos são propostos, executados e acompanhados por voluntários e voluntárias que fazem parte do coletivo. O objetivo dos cursos não é somente ensinar um ofício profissionalizante, mas também oferecer conceitos e práticas de gestão financeira para ensinar como precificar os produtos e gerenciar rendas. Além disso, tem a intenção de tornar as próprias alunas dos cursos em futuras professoras de turmas futuras, criando uma correia de transmissão de práticas e saberes dentro da própria comunidade.

Quem se forma em um curso de panificação, por exemplo, ganha um kit de insumos para iniciar a sua produção por um mês e é também apoiado pelo projeto para a divulgação do trabalho e busca de parceria com moto girl para realizar entregas de encomendas. Esse apoio se estende por até dois meses. Depois disso, o projeto Povo Solidário acompanha por mais dois meses a evolução do empreendimento da aluna ou aluno. “Também estamos começando a trabalhar com palestras e formação para incentivar a criação de hortas comunitárias e de uma cooperativa”, acrescenta Flavia.

Lorenzo Dovera (ao fundo) é professor voluntário do curso de panificação (Arquivo pessoal)

Lorenzo Dovera, 24 anos, formado em Administração Pública e Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), decidiu se juntar ao projeto como voluntário e é responsável hoje pelo curso de panificação oferecido às mulheres da comunidade. Quando tinha 16 anos, Lorenzo realizou o curso de panificação e confeitaria no SENAC-RS e assumiu um compromisso consigo mesmo. “Desde então sempre tive a vontade de ensinar e compartilhar todo o meu conhecimento para aquelas pessoas que não tiveram o privilégio que tive de poder pagar um curso como eu tive. Conheci o Povo Solidário neste ano de pandemia e juntamente com a Flávia, criamos esse curso de panificação. Estamos com nossa segunda turma, agora com cerca de 16 mulheres, estamos formando multiplicadoras de conhecimento. A ideia futura é que cada aluna possa ser a professora de outras mulheres/homens para criarem uma corrente de geração de renda dentro da comunidade”.

As atividades do projeto não se resumem às oficinas de panificação e confeitaria. Há muitos voluntários que estão só esperando a obtenção de um espaço físico adequado para montar oficinas de capoeira, teatro, cinema, canto e música. “O Brasil de volta ao mapa da fome. Em função desta realidade, também atuamos com distribuição de cestas básicas e ajudamos com campanhas de doações de roupas e materiais de primeira necessidade”, relata ainda Flavia Lima. A ideia em relação às oficinas culturais é que elas comecem a funcionar na medida do avanço da vacinação e do fim da pandemia. Entre elas, destacam-se os seguintes projetos: 

Oficina musical –  atividades musicais voltadas a crianças e adolescentes de 7 a 18 anos, com enfoque em apreciação musical, desenvolvimento de musicalidade, criação musical, práticas vocais em conjunto, teoria musical e ritmos brasileiros. 

Oficinas de Capoeira – desenvolvimento de atividades, em vários níveis, seja buscando a elevação do nível técnico do ensino e da aprendizagem da capoeira, seja utilizando a capoeira como recurso pedagógico, artístico e cultural. 

Oficinas de cinema e filmagens – execução de atividades de cinema e filmagens, laboratórios para descobrir novos talentos dentro das comunidades. As ações são voltadas a crianças e adolescentes, com enfoque em apreciação cultural e desenvolvimento da arte e musicalidade, criação documentários, práticas de grupos em conjunto, teoria e filmagens de documentários, curtas brasileiros.

Contação de histórias (teatros com fantoches) – montagem de um grupo temático, que possibilitará a visitação em nossa biblioteca comunitária. (apresentação de teatros e brincadeiras, contação de história, temas com alcances infantis e adultos)

Oficina de costura e modelagem – O Projeto Cariño é um projeto criado em 2017 pelos cursos de Design Moda e Gráfico, Pedagogia e Psicologia da UniRitter. Ele tem como objetivo qualificar famílias em situação de vulnerabilidade social, auxiliando no desenvolvimento de técnicas manuais e artesanais.

Para que todos esses projetos se transformem em realidade, destaca Flavia Lima, o projeto Povo Solidário precisa contar com mais voluntários nas áreas de panificação e confeitaria, mais professoras e professores e também apoio financeiro (ou com insumos) de empresas, empresários e outras entidades interessadas em apoiar a iniciativa. “Sem ajuda, nao vamos dar conta da demanda que é crescente”, resume a coordenadora do projeto.


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