
O Sindicato dos Motoristas em Transportes Privados por Aplicativos do Estado do Rio Grande do Sul (Simtrapli) divulgou, nesta quarta-feira (22), uma nota expressando repúdio ao bloqueio massivo de dezenas de motoristas praticado pela Uber nas últimas horas, em todo o Estado. Segundo o sindicato, “as condições de trabalho dos motoristas na Uber vêm se deteriorando já há bom tempo, mas particularmente nestes últimos meses de constantes e expressivos aumentos dos combustíveis”. Dezenas de motoristas que tiveram suas contas bloqueadas realizaram um protesto, nesta quarta, em frente à sede da empresa, protestando contra a medida. (ver vídeo abaixo)
Os motoristas que tiveram suas contas bloqueadas realizarão um novo protesto, nesta quinta-feira (23), com concentração marcada para às 7h, no Largo da Epatur. Dali seguirão em carreata até a sede da Uber e depois irão para o Ministério Público.
Segundo a Uber, só estão sendo excluídos aqueles que tinham números excessivos de cancelamentos. A empresa alega que os motoristas bloqueados abusaram do recurso do cancelamento e “configuraram mau uso da plataforma prejudicando o seu funcionamento e prejudicando intencionalmente a experiência dos demais usuários e motoristas”.
O Simtrapli contesta a explicação da empresa, assinalando que “como a Uber não reajusta o valor que paga a seus motoristas desde 2016, é evidente que com a gasolina a 7 reais a situação está se tornando insustentável para muitos. Em São Paulo, cerca de 25% dos motoristas já abandonaram o trabalho em aplicativos neste ano”.
Ainda segundo o sindicato, aqueles que por falta de opções, com o aumento do desemprego em meio à pandemia, permanecem trabalhando como motoristas do aplicativo, “são obrigados a se tornar mais seletivos na aceitação das viagens”. “Com o preço dos combustíveis e com que a empresa paga, é muito comum a viagem se tornar deficitária e o motorista ter prejuízo para a que a Uber assegure seu lucro”, acrescenta o Simtrapli.
“No lugar de reajustar o ganho dos motoristas ( que no Rio Grande do Sul já estão defasados em mais de 50%), a Uber decidiu bloquear todos aqueles que considera que estejam cancelando demasiadas viagens. Centenas de motoristas que estavam apenas buscando uma forma de sobreviver numa conjuntura adversa foram definitivamente jogados pela Uber na rua da amargura”, protesta ainda o sindicato.
Para o Simtrapli, recusar viagens perigosas e deficitárias é um direito dos motoristas e as empresas não podem puni-los por causa disso. A Uber, defende ainda o entidade, deve reajustar os ganhos dos motoristas, como fez em São Paulo, Florianópolis, Brasília e outras cidades, no lugar de puni-los por tentarem sobreviver. O sindicato anunciou, por fim, que tomará as medidas jurídicas cabíveis para assegurar os direitos dos motoristas de aplicativos e buscará imediatamente uma mediação junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região para encontrar soluções para essa crise.
A assessoria da Uber enviou nota, no final da tarde desta quarta, com o posicionamento oficial da empresa sobre o caso. Segue a íntegra da nota, com um exemplo apontado pela empresa:

“Motoristas parceiros são profissionais independentes e, assim como os usuários, podem cancelar viagens quando julgarem necessário. Cancelamentos excessivos ou para fins de fraude, porém, representam abuso do recurso e configuram mau uso da plataforma, pois atrapalham o seu funcionamento e prejudicam intencionalmente a experiência dos demais usuários e motoristas. A Uber tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente as viagens e os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da Comunidade e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas.
Comportamentos como a prática de cancelar diversas viagens em sequência e logo após terem sido aceitas prejudicam negativamente todos que usam a plataforma porque, de um lado, impedem que outros motoristas parceiros gerem renda atendendo as mesmas solicitações de viagens canceladas, e, por outro, deixam os usuários esperando mais tempo ou até desistindo da solicitação.
O abuso no cancelamento de viagens não tem nada a ver com a liberdade do motorista parceiro de recusar solicitações. Na Uber, o motorista é totalmente livre para decidir quais solicitações de viagem aceitar e quais recusar. A conexão entre parceiro e usuário – quando nome, modelo e placa do carro são compartilhados e o usuário recebe a confirmação de que o motorista está a caminho – só ocorre depois do motorista ter conferido as informações da solicitação (tempo, distância, destino etc.) e decidido aceitar a realização da viagem.”