
O percentual de pacientes com covid-19 internados em leitos clínicos no Rio Grande do Sul diminuiu em cerca de 50% nos últimos 30 dias. No dia 2 de junho, havia 2.916 pessoas infectadas internadas nos hospitais do Estado e, nessa sexta-feira (9), são 1.399 pacientes, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES).
Desde o começo do ano, a pandemia do novo coronavírus tem tido oscilações no RS, apesar de sempre se manter em níveis altos de contaminações, internações e mortes. No dia 1º de janeiro, o ano começou com 1.019 pessoas hospitalizadas em leitos clínicos em todo o RS.
Pouco mais de dois meses depois, a crise sanitária atingiu o seu pior momento. No dia 12 de março houve 5.435 internados em leitos clínicos no RS. Foi o ápice da pandemia no Estado desde o seu início.
Após atingir o pico, as hospitalizações diminuíram e chegaram a registrar 1.915 pacientes em leitos clínicos, no dia 8 de maio, para depois subir novamente até quase 3 mil pessoas e agora estar em 1.399 pacientes internados.
Os dados de internações nos leitos de UTI também mostram o “sobe e desce” da pandemia no RS. No dia 1º de janeiro, 903 pessoas estavam nas UTIs dos hospitais do Estado, quantidade que chegou a 2.634 pacientes no dia 27 de março, o recorde de todo o período da pandemia.
Após atingir o pico, houve sucessivas quedas até chegar em 1.564 pessoas internadas com covid-19 nas UTIs, no dia 15 de maio, e então subir novamente para 1.902 pacientes no dia 9 de junho. A partir dessa data, o total de pessoas confirmadas com covid-19 vem caindo e está em 1.412 pessoas nesta sexta-feira (8).
Devido à característica da longa internação dos pacientes graves, a queda nos indicadores de internação na UTI costuma ser mais lenta do que em relação aos leitos clínicos. A taxa de ocupação de leitos de UTI no Rio Grande do Sul, que em março superou os 100%, está em 80% nesta sexta-feira (9). São 2.765 pacientes para um total de 3.415 leitos disponíveis.
No começo de junho, o Sul21 publicou reportagem analisando os possíveis efeitos positivos que a vacinação já poderia causar. Na ocasião, 17,8% da população adulta do Rio Grande do Sul havia recebido as duas doses da vacina, percentual que hoje, um mês depois, aumentou para 24% — além de 60% da população adulta ter recebido uma dose.
Naquela ocasião, o médico Eduardo Sprinz, chefe do serviço de infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), foi cauteloso ao analisar os possíveis efeitos positivos que a vacinação já poderia representar. Há 30 dias, Sprinz disse que a influência da vacinação seria vista nas próximos semanas, em que saberíamos se haveria ou não uma explosão de novos casos de contaminação. “Tudo vai depender da nossa velocidade de vacinação. Esse não é um ‘bicho’ igual aos outros, é um ‘bicho’ que tem personalidade própria, tudo isso é novo. É uma nova doença que está escrevendo a sua história. E infelizmente estamos vivendo isso”, comentou.
Hoje, um mês depois, a professora Lúcia Pellanda, reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), acredita que a diminuição de 50% nas internações em leitos clínicos é um indício de que as vacinas começaram a funcionar.
Cuidadosa, Lúcia salienta que cientista nunca vai falar com 100% de certeza sem ter um estudo robusto sobre o assunto, mas que tudo leva a crer que a melhora é sim resultado da vacinação. “Tudo indica que é a vacina, até porque estamos vendo a questão das faixas etárias. Nas faixas etárias que já vacinaram, diminuiu bastante o número de casos”, explica.
Integrante do comitê científico que assessora o governo estadual, a reitora pondera que, por outro lado, os jovens estão se expondo mais ao vírus e isso está causando o “rejuvenescimento” da pandemia. O aumento da exposição de grupos não vacinados combinado com a maior circulação geral da população, pode levar ao surgimento de novas variantes do vírus e, com isso, elevar o risco de que alguma nova cepa consiga “escapar” da proteção das vacinas.
Até o momento, os primeiros estudos indicam que as vacinas seguem sendo eficientes contra as novas variantes, inclusive a delta, ainda que oscilando a efetividade dependendo da cepa. O problema é se realmente surgir uma variante mais resistente aos imunizastes.
Por isso, Lúcia destaca os bons resultados que o atual estágio da vacinação já demonstra obter, e ressalta ainda ser preciso manter os cuidados básicos de distanciamento, uso de máscara e higienização. As vacinas começam a mostrar sua capacidade de imunização, o que não pode ocorrer é o surgimento de uma nova variante que ponha tudo em risco.