
Nícolas Pasinato
Nesta quinta-feira (13), cerca de 50 manifestantes que apoiam o movimento LGBT realizaram um ‘beijaço’ em frente à sede do Partido Progressista (PP) do Rio Grande do Sul, na Praça da Matriz, em Porto Alegre. O ato foi promovido em repúdio à manifestação do deputado Luis Carlos Heinze (PP/RS) que, em audiência pública da Comissão de Agricultura da Câmara Federal, realizada em Vicente Dutra, no norte do Estado, disse que “índios, quilombolas, lésbicas e gays” representam tudo que “não presta”. O pronunciamento se tornou público através de uma gravação.
“Estamos unidos contra o conservadorismo e para tornar o Brasil livre da homofobia. O deputado federal do Rio Grande do Sul (Luis Carlos Heinze) é do mesmo partido do (deputado federal Jair) Bolsonaro e seguiu a mesma linha de declarações homofóbicas e preconceituosas. É o tipo de discurso que legitima a homofobia e a violências nas ruas”, declara Lucas Maróstica, militante do Coletivo Juntos.
Maróstica lembrou que, de acordo com estatísticas divulgadas todo o ano pelo Grupo Gay da Bahia, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de assassinatos de LGBT no mundo. “Só no ano passado foram 300. A motivação dos crimes tem relação com os discursos desses deputados, dizendo que gays, indígenas e negros não prestam”, disse.
Vitor Martins, coordenador do núcleo LGBT da União da Juventude Socialista (UJS) de Porto Alegre, recordou a morte do menino de 8 anos, espancado até a morte pelo pai que não admitia que a criança gostasse de lavar louça, além de ser espancado repetidas vezes para aprender a ‘andar como homem’.
“As falas do deputado (Luis Carlos Heinze) são um reflexo imediato do cenário em que vivemos. Nos espaços de poder, os deputados homofóbicos reproduzem o preconceito e o crime na sociedade. Precisamos estar unidos para que isso seja combatido”, afirma Vitor. Jucele Comis, representante da campanha Todos pela Criminalização da Homofobia, por sua vez, cobrou uma manifestação do Partido Progressista. “O partido tem que se manifestar se é a favor, contra ou se é conivente com a postura do deputado Heinze”, defende ela.
O vice presidente da União Nacional dos Estudantes, Álvaro Lottermann, defendeu a punição e cassação do mandato do deputado do PP e também do deputado federal Alceu Moreira (PMDB-RS). Moreira, na mesma ocasião da fala de Heinze, usou o termo “vigaristas” e defendeu que a plateia, formada por agricultores, deveria se vestir de “guerreira” em meio à disputa por demarcação de terras indígenas.
Também estavam presentes representantes do Desobedeça, Liga Brasileira de Lésbicas, grupo A Mariguella, entre outros.

Ato teve início na Esquina Democrática
A manifestação iniciou na Esquina Democrática. No caminho para a sede do PP/RS, cânticos eram entoados pelos manifestantes como “A nossa luta é todo dia, contra racismo machismo e homofobia”, “Beijinho no ombro para homofobia passar longe” e “Beijo homem, beijo mulher, tenho direito de beijar quem eu quiser”. Além disso, o megafone era revezado para que os ativistas pudessem se pronunciar.
Ao chegarem na sede do PP-RS, foram colocados cartazes e bandeiras na faixada do prédio. Um representante do PP-RS se dirigiu aos manifestantes e entregou uma nota do Partido Progressista/RS. Ele ainda convidou alguma liderança do movimento para conversar com o presidente do partido, Celso Bernardi. O convite, porém, foi negado. Lucas Maróstica, do Coletivo Juntos, afirmou que o diálogo se dá no dia-a-dia com ações na Câmara em defesa de direitos e que não adiantava buscar uma conversa no dia do ato.
Em entrevista por telefone ao Sul21, o presidente do PP, Celso Bernardi, disse que respeita a manifestação. “Lançamos uma nota do partido dizendo que o deputado foi infeliz e que o PP, evidentemente, não concorda com o pronunciamento dele. Vimos a manifestação e respeitamos. Convidamos um representante para subir, mas não quiseram. Paciência”, disse.
Questionado se teme que o partido seja reconhecido por admitir uma postura homofóbica a partir de declarações como a dos deputados federais Luis Carlos Heinze e Jair Bolsonaro, Bernardi disse que o PP respeita o direito de liberdade de expressão de seus integrantes, mesmo não concordando com as suas posições. “Respeitamos o direito de liberdade de expressão. Lamentamos as manifestações do deputado. A posição do partido é essa“, conclui.
Confira nota do Partido Progressista/RS distribuída no ato:
O Partido Progressista do Rio Grande do Sul vem a público manifestar a sua posição sobre o vídeo em que consta a manifestação do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), em audiência pública da Comissão de Agricultura da Câmara Federal, realizada em Vicente Dutra, em 29/11/2013, registrando de forma categórica que se trata de uma opinião do deputado no exercício de seu mandato.
O partido não compartilha de forma nenhuma com qualquer manifestação preconceituosa ou que incite a violência contra qualquer grupo.
Defendemos a pluralidade e a convivência pacífica entre as pessoas, sempre respeitando suas opiniões e diferenças.
O PP não tem qualquer compromisso com o erro ou manifestação infeliz que por certo ocorre também com integrantes de outros partidos.
As opiniões divergentes ocorrem, muitas vezes, entre membros da própria famílias, como acontecem, também, entre os membros dos partidos políticos.
Por essa razão, o PP-RS manifesta, nesta nota, a sua posição e reafirma o seu compromisso na defesa de uma sociedade justa e plural, que começa pela liberdade de expressão, mesmo quando surgem opiniões com as quais discorda.
Confira mais fotos:
