
Débora Fogliatto
Cerca de cinquenta alunos se manifestaram na manhã desta sexta-feira (25), durante a reunião do Conselho Universitário da UFRGS (Consun), para cobrar medidas a serem tomadas pela universidade a respeito de ação da Brigada Militar na Escola de Educação Física (ESEF) no último sábado. Os conselheiros escreveram uma nota em apoio, pedindo que seja assegurado o direito às confraternizações e eventos estudantis e cobrando uma posição da Reitoria.
A ação referida aconteceu durante uma confraternização de estudantes na ESEF, no bairro Jardim Botânico, em Porto Alegre. Durante a madrugada de sábado, um grupo de brigadianos entrou na faculdade, por uma entrada que não era a oficial, alegando ter recebido reclamações de vizinhos devido à música alta. Na situação, quatro alunos foram detidos, dois da Educação Física, um da História e uma da Enfermagem.

Os quatro estudantes foram indiciados por desacato de autoridades, desobediência e resistência à prisão. Uma delas foi a estudante de Enfermagem Lisiane Silva da Rosa, que esteve presente na manifestação em frente à Reitoria e contou ao Sul21 que foi indiciada também por “dano à viatura”, por ter supostamente amassado um carro da Brigada, o que ela alega não ter feito e nem ter força para que pudesse fazer.
Na situação, Lisiane sofreu agressões físicas e verbais, e foi à delegacia da mulher alguns dias depois prestar queixa. “Com tudo isso, a universidade não falou nada. E não nos ouviram até agora”, lamentou. O acesso à reunião foi permitido aos alunos indiciados, que relataram o acontecido, junto com alguns representantes no Consun.
Durante a reunião, dois representantes dos alunos pediram a retirada das acusações e um posicionamento oficial. Segundo os estudantes no conselho, os professores se manifestaram contra a ação da Brigada Militar, inclusive os diretores de Educação Física e Enfermagem.
O vice-reitor da UFRGS, Rui Vicente Oppermann, representou a Reitoria na reunião e, de acordo com os estudantes, teria afirmado que a ação da BM não havia sido correta, mas que não queria criar constrangimentos entre a faculdade e o governo do estado, porque eram entidades parceiras. Os alunos também foram informados que o processo contra os quatro detidos agora corre na Polícia Federal, por ter ocorrido dentro da universidade federal.
Manifestações
Enquanto a reunião acontecia, os alunos do lado de fora penduraram cartazes com os dizeres “Ei reitor, a polícia que mata cinco civis por dia é a única “segurança” que tu nos oferece?” e “Não é só PRAE, não é só o chefe de segurança. Se o reitor não se pronunciar, a UFRGS vai parar”, referindo-se à pró-reitoria de assuntos estudantis.

Inicialmente, a manifestação se concentrou do lado de trás do prédio da Reitoria, no Campus Central da universidade. Algumas estudantes entregavam panfletos explicando a situação para os que passavam e entravam. Um representante do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) também distribuiu papéis com uma nota dos professores apoiando os alunos. “Causa surpresa que, passados mais de cinco dias desde o ocorrido, ainda se esteja esperando por uma manifestação pública da UFRGS a respeito”, lembrou o comunicado, que afirma não poder deixar “que as invasões de campi de universidades federais se tornem rotina”.
Em determinado momento, os estudantes que se encontravam na frente da porta tentaram acessar o prédio para acompanhar mais de perto a reunião, mas foram impedidos pelos seguranças. Eles então optaram por dar a volta e continuar o movimento na parte da frente da Reitoria, cantando “Sou estudante, não vai passar, a repressão da Brigada Militar” e “Ô seu reitor, que sacanagem, na tua gestão a Brigada tem passagem”.
Ainda na tarde desta sexta-feira, os estudantes devem se reunir com a ouvidoria da Brigada Militar para relatar os casos de abusos. A nota oficial do Consun, acordada durante a reunião, ainda não foi divulgada.
